quinta-feira, 23 de abril de 2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

MENSAGEM DO PONTIFÍCIO CONSELHO


PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO AOS BUDISTAS
PELA FESTA DE "VESAKH" 2009

Testemunhas do espírito de pobreza, cristãos e budistas em diálogo

Prezados amigos budistas

1. A iminente festa de Vesakh/Hanamatsuri proporciona a agradável ocasião para vos transmitir, em nome do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, as nossas sinceras congratulações e os nossos cordiais bons votos: que esta festa traga mais uma vez a alegria e a serenidade aos corações de todos os budistas, em todas as partes do mundo. Esta celebração anual oferece aos católicos a oportunidade de trocar os bons votos com os amigos e vizinhos budistas e, deste modo, revigorar os laços de amizade já existentes e criar outros novos. Estes vínculos de cordialidade permitem-nos compartilhar uns com os outros as nossas alegrias e esperanças, e os nossos tesouros espirituais.

2. Renovando neste período o nosso sentido de proximidade de vós, budistas, torna-se cada vez mais claro que, em conjunto, somos capazes não só de contribuir em fidelidade às nossas respectivas tradições espirituais para o bem-estar das nossas próprias comunidades, mas inclusive para o bem da comunidade mundial. Sentimos profundamente o desafio que está à frente de todos nós, representado por um lado pelo fenómeno da pobreza nas suas várias formas e, por outro, pela busca desenfreada da posse material e pelo espectro penetrante do consumismo.

3. Como foi recentemente afirmado por Sua Santidade o Papa Bento XVI, a pobreza pode ser de dois tipos muito diferentes entre si, nomeadamente, uma pobreza "a escolher" e a outra pobreza "a combater" (Homilia1 de Janeiro de 2009). Para o cristão, a pobreza a escolher é aquela que permite à pessoa caminhar seguindo as pegadas de Jesus Cristo. Fazendo-o, o cristão torna-se disponível a receber as graças de Cristo que por nós se tornou pobre, embora fosse rico, a fim de que através da sua pobreza também nós nos tornássemos ricos (cf. 2 Cor 8, 9). Estamos conscientes de que esta pobreza significa, principalmente, o esvaziamento de nós mesmos, mas também a consideramos como uma aceitação de nós próprios como somos, com os nossos talentos e os nossos limites. Esta pobreza cria em nós uma disponibilidade a dar ouvidos a Deus e inclusive aos nossos irmãos e irmãs, permanecendo abertos a eles e respeitando-os como indivíduos. Valorizamos toda a criação, e também todas as realizações da obra do homem, mas estamos orientados a fazê-lo com liberdade e gratidão, com atenção e respeito, juntamente com um espírito de desapego que nos permite lançar mão dos bens deste mundo, como se nada tivéssemos e, ao mesmo tempo, tudo possuíssemos (cf. 2 Cor 6,10).

4. Contemporaneamente, como o Papa Bento XVI já observava, "há uma pobreza, uma indigência, que Deus não quer e que deve ser "combatida", [...] uma pobreza que impede que as pessoas e as famílias vivam segundo a sua dignidade; uma pobreza que ofende a justiça e a igualdade e que, como tal, ameaça a convivência pacífica" (Homilia, op. cit., 1 de Janeiro de 2009). Além disso, "nas sociedades ricas e avançadas existem fenómenos de marginalização, de pobreza afectiva, moral e espiritual: trata-se de pessoas desorientadas interiormente que, apesar do bem-estar económico, vivem diversas formas de transtorno" (Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2009, n. 2).

5. Queridos amigos budistas, enquanto nós católicos reflectimos desta maneira a propósito do significado da pobreza, ao mesmo tempo prestamos atenção também à experiência espiritual que nos é própria. Queremos agradecer-vos o vosso inspirado testemunho de desapego e de felicidade. Monges, monjas e numerosos leigos devotos no meio de vós abraçam a pobreza "a escolher", que alimenta espiritualmente o coração do homem, enriquecendo substancialmente a vida com uma introspecção mais profunda a respeito do significado da existência e corroborando o compromisso de promover a boa vontade de toda a comunidade humana. Uma vez mais, permiti-nos manifestar os nossos sinceros cumprimentos e formular a todos vós os bons votos de uma feliz festa de Vesakh/Hanamatsuri.

Cardeal Jean-Louis Tauran 
Presidente

Arcebispo D. Pier Luigi Celata 
Secretário


segunda-feira, 13 de abril de 2009

HOMILIA DO PAPA NA VIGÍLIA PASCAL


A mão salvadora do Senhor nos sustenta

Amados irmãos e irmãs!

Narra São Marcos no seu Evangelho que os discípulos, ao descer do monte da Transfiguração, discutiam entre si o que queria dizer «ressuscitar dos mortos» (cf. Mc 9, 10). Antes, o Senhor tinha-lhes anunciado a sua paixão e a ressurreição três dias depois. Pedro tinha protestado contra o anúncio da morte. Mas agora interrogavam-se acerca do que se poderia entender pelo termo «ressurreição». Porventura não acontece o mesmo também a nós? O Natal, o nascimento do Deus Menino de certo modo é-nos imediatamente compreensível. Podemos amar o Menino, podemos imaginar a noite de Belém, a alegria de Maria, a alegria de São José e dos pastores e o júbilo dos Anjos. Mas, a ressurreição: o que é? Não entra no âmbito das nossas experiências, e assim a mensagem frequentemente acaba, em qualquer medida, incompreendida, algo do passado. A Igreja procura levar-nos à sua compreensão, traduzindo este acontecimento misterioso na linguagem dos símbolos pelos quais nos seja possível de algum modo contemplar este facto impressionante. Na Vigília Pascal, indica-nos o significado deste dia sobretudo através de três símbolos: a luz, a água e o cântico novo do aleluia.

Temos, em primeiro lugar, a luz. A criação por obra de Deus – acabámos de ouvir a sua narração bíblica – começa com as palavras: «Haja luz!» (Gen 1, 3). Onde há luz, nasce a vida, o caos pode transformar-se em cosmos. Na mensagem bíblica, a luz é a imagem mais imediata de Deus: Ele é todo Resplendor, Vida, Verdade, Luz. Na Vigília Pascal, a Igreja lê a narração da criação como profecia. Na ressurreição, verifica-se de modo mais sublime aquilo que este texto descreve como o início de todas as coisas. Deus diz de novo: «Haja luz». A ressurreição de Jesus é uma irrupção de luz. A morte fica superada, o sepulcro escancarado. O próprio Ressuscitado é Luz, a Luz do mundo. Com a ressurreição, o dia de Deus entra nas noites da história. A partir da ressurreição, a luz de Deus difunde-se pelo mundo e pela história. Faz-se dia. Somente esta Luz – Jesus Cristo – é a luz verdadeira, mais verdadeira que o fenómeno físico da luz. Ele é a Luz pura: é o próprio Deus, que faz nascer uma nova criação no meio da antiga, transforma o caos em cosmos.

Procuremos compreender isto um pouco melhor ainda. Porque é que Cristo é Luz? No Antigo Testamento, a Torah era considerada como a luz vinda de Deus para o mundo e para os homens. Aquela separa, na criação, a luz das trevas, isto é, o bem do mal. Aponta ao homem o caminho justo para viver de modo autêntico. Indica-lhe o bem, mostra-lhe a verdade e conduz-lo para o amor, que é o seu conteúdo mais profundo. Aquela é «lâmpada» para os passos, e «luz» no caminho (cf. Sal 119/118, 105). Ora, os cristãos sabiam que, em Cristo está presente a Torah: a Palavra de Deus está presente n’Ele como Pessoa. A Palavra de Deus é a verdadeira Luz de que o homem necessita. Esta Palavra está presente n’Ele, no Filho. O Salmo 19 comparara a Torah ao sol, que, nascendo, manifesta a glória de Deus visivelmente em todo o mundo. Os cristãos compreendem: sim, na ressurreição, o Filho de Deus surgiu como Luz sobre o mundo. Cristo é a grande Luz, da qual provém toda a vida. Ele faz-nos reconhecer a glória de Deus de um extremo ao outro da terra. Indica-nos a estrada. Ele é o dia de Deus que agora, crescendo, se difunde por toda a terra. Agora, vivendo com Ele e por Ele, podemos viver na luz.

Na Vigília Pascal, a Igreja representa o mistério da luz de Cristo no sinal do círio pascal, cuja chama é simultaneamente luz e calor. O simbolismo da luz está ligado com o do fogo: resplendor e calor, resplendor e energia de transformação contida no fogo. Verdade e amor andam juntos. O círio pascal arde e deste modo se consuma: cruz e ressurreição são inseparáveis. Da cruz, da autodoacção do Filho nasce a luz, provém o verdadeiro resplendor sobre o mundo. No círio pascal, todos acendemos as nossas velas, sobretudo as dos neo-baptizados, aos quais, neste sacramento, a luz de Cristo é colocada no fundo do coração. A Igreja Antiga designou o Baptismo como fotismos, como sacramento da iluminação, como uma comunicação de luz e ligou-o inseparavelmente com a ressurreição de Cristo. No Baptismo, Deus diz ao baptizando: «Haja luz». O baptizando é introduzido dentro da luz de Cristo. Cristo divide agora a luz das trevas. N’Ele reconhecemos o que é verdadeiro e o que é falso, o que é o resplendor e o que é a escuridão. Com Ele, surge em nós a luz da verdade e começamos a compreender. Uma vez quando Cristo viu a gente que se congregara para O escutar e esperava d’Ele uma orientação, sentiu compaixão por ela, porque eram como ovelhas sem pastor (cf. Mc 6, 34). No meio das correntes contrastantes do seu tempo, não sabiam a quem dirigir-se. Quanta compaixão deve Ele sentir também do nosso tempo, por causa de todos os grandes discursos por trás dos quais, na realidade, se esconde uma grande desorientação! Para onde devemos ir? Quais são os valores, segundo os quais podemos regular-nos? Os valores segundo os quais podemos educar os jovens, sem lhes dar normas que talvez não subsistam nem exigir coisas que talvez não lhes devam ser impostas? Ele é a Luz. A vela baptismal é o símbolo da iluminação que nos é concedida no Baptismo. Assim, nesta hora, também São Paulo nos fala de modo muito imediato. Na Carta aos Filipenses, diz que, no meio de uma geração má e perversa, os cristãos deveriam brilhar como astros no mundo (cf. Fil 2, 15). Peçamos ao Senhor que a pequena chama da vela, que Ele acendeu em nós, a luz delicada da sua palavra e do seu amor no meio das confusões deste tempo não se apague em nós, mas torne-se cada vez mais forte e mais resplendorosa. Para que sejamos com Ele pessoas do dia, astros para o nosso tempo.

O segundo símbolo da Vigília Pascal – a noite do Baptismo – é a água. Esta aparece, na Sagrada Escritura e consequentemente também na estrutura íntima do sacramento do Baptismo, com dois significados opostos. De um lado, temos o mar que se apresenta como o poder antagonista da vida sobre a terra, como a sua contínua ameaça, à qual, porém, Deus colocou um limite. Por isso o Apocalipse, ao falar do mundo novo de Deus, diz que lá o mar já não existirá (cf. 21, 1). É o elemento da morte. E assim torna-se a representação simbólica da morte de Jesus na cruz: Cristo desceu aos abismos do mar, às águas da morte, como Israel penetrou no Mar Vermelho. Ressuscitado da morte, Ele dá-nos a vida. Isto significa que o Baptismo não é apenas um banho, mas um novo nascimento: com Cristo, como que descemos ao mar da morte para dele subirmos como criaturas novas.

O outro significado com que encontramos a água é como nascente fresca, que dá a vida, ou também como o grande rio donde provém a vida. Segundo o ordenamento primitivo da Igreja, o Baptismo devia ser administrado com água fresca de nascente. Sem água, não há vida. Impressiona a grande importância que têm na Sagrada Escritura os poços. São lugares donde brota a vida. Junto do poço de Jacob, Cristo anuncia à Samaritana o poço novo, a água da vida verdadeira. Manifesta-Se a ela como o novo e definitivo Jacob, que abre à humanidade o poço que esta aguarda: aquela água que dá a vida que jamais se esgota (cf. Jo 4, 5-15). São João narra-nos que um soldado feriu com uma lança o lado de Jesus e que, do lado aberto – do seu coração trespassado –, saiu sangue e água (cf. Jo 19, 34). Nisto, a Igreja Antiga viu um símbolo do Baptismo e da Eucaristia, que brotam do coração trespassado de Jesus. Na morte, Jesus mesmo Se tornou a nascente. Numa visão, o profeta Ezequiel tinha visto o Templo novo, do qual jorra uma nascente que se torna um grande rio que dá a vida (cf. Ez 47, 1-12); para uma Terra que sempre sofria com a seca e a falta de água, esta era uma grande visão de esperança. A cristandade dos primórdios compreendeu: em Cristo, realizou-se esta visão. Ele é o Templo verdadeiro, o Templo vivo de Deus. E é também a nascente de água viva. D’Ele brota o grande rio que, no Baptismo, faz frutificar e renova o mundo; o grande rio de água viva é o seu Evangelho que torna fecunda a terra. Mas, num discurso durante a Festa das Tendas, Jesus profetizou uma coisa ainda maior: «Do seio daquele que acreditar em Mim, correrão rios de água viva» (Jo 7, 38). No Baptismo, o Senhor faz de nós não só pessoas de luz, mas também nascentes das quais brota água viva. Todos nós conhecemos tais pessoas que nos deixam de algum modo restaurados e renovados; pessoas que são como que uma fonte de água fresca borbotante. Não devemos necessariamente pensar a pessoas grandes como Agostinho, Francisco de Assis, Teresa de Ávila, Madre Teresa de Calcutá e assim por diante, pessoas através das quais verdadeiramente rios de água viva penetraram na história. Graças a Deus, encontramo-las continuamente mesmo no nosso dia a dia: pessoas que são uma nascente. Com certeza, conhecemos também o contrário: pessoas das quais emana um odor parecido com o dum charco com água estagnada ou mesmo envenenada. Peçamos ao Senhor, que nos concedeu a graça do Baptismo, para podermos ser sempre nascentes de água pura, fresca, saltitante da fonte da sua verdade e do seu amor.

O terceiro grande símbolo da Vigília Pascal é de natureza muito particular; envolve o próprio homem. É a entoação do cântico novo: o aleluia. Quando uma pessoa experimenta uma grande alegria, não pode guardá-la para si. Deve manifestá-la, transmiti-la. Mas que sucede quando a pessoa é tocada pela luz da ressurreição, entrando assim em contacto com a própria Vida, com a Verdade e com o Amor? Disto, não pode limitar-se simplesmente a falar; o falar já não basta. Ela tem de cantar. Na Bíblia, a primeira menção do acto de cantar encontra-se depois da travessia do Mar Vermelho. Israel libertou-se da escravidão. Subiu das profundezas ameaçadoras do mar. É como se tivesse renascido. Vive e é livre. A Bíblia descreve a reacção do povo a este grande acontecimento da salvação com a frase: «O povo acreditou no Senhor e em Moisés, seu servo» (Ex 14, 31). Segue-se depois a segunda reacção que nasce, por uma espécie de necessidade interior, da primeira: «Então Moisés e os filhos de Israel cantaram este cântico ao Senhor…». Na Vigília Pascal, ano após ano, nós, cristãos, depois da terceira leitura entoamos este cântico, cantamo-lo como o nosso cântico, porque também nós, pelo poder de Deus, fomos tirados para fora da água e libertos para a vida verdadeira.

Para a história do cântico de Moisés depois da libertação de Israel do Egipto e depois da subida do Mar Vermelho, há um paralelismo surpreendente no Apocalipse de São João. Antes de iniciarem os últimos sete flagelos impostos à terra, aparece ao vidente «uma espécie de mar de cristal misturado com fogo. Sobre o mar de cristal, estavam de pé os vencedores do Monstro, da sua imagem e do número do seu nome. Tinham na mão harpas divinas e cantavam o cântico de Moisés, o servo de Deus, e o cântico do Cordeiro…» (Ap 15, 2s). Com esta imagem, é descrita a situação dos discípulos de Jesus em todos os tempos, a situação da Igreja na história deste mundo. Considerada humanamente, tal situação é contraditória em si mesma. Por um lado, a comunidade encontra-se no Êxodo, no meio do Mar Vermelho. Num mar que, paradoxalmente, é ao mesmo tempo gelo e fogo. E não deve porventura a Igreja caminhar sempre sobre o mar através do fogo e do frio? Humanamente falando, deveria afundar. Mas não, e enquanto caminha ainda no meio deste Mar Vermelho, ela canta – entoa o cântico de louvor dos justos: o cântico de Moisés e do Cordeiro, no qual concordam a Antiga e a Nova Aliança. Enquanto, na realidade deveria afundar, a Igreja entoa o cântico de agradecimento dos redimidos. Está sobre as águas de morte da história e todavia já está ressuscitada. Cantando, ela agarra-se à mão do Senhor, que a sustenta por cima das águas. E sabe que deste modo é guindada fora da força de gravidade da morte e do mal – uma força da qual, sem tal intervenção, não haveria caminho algum de fuga – guindada e atraída para dentro da nova força de gravidade de Deus, da verdade e do amor. De momento, ela encontra-se ainda entre os dois campos gravitacionais. Mas desde que Jesus ressuscitou, a gravitação do amor é mais forte que a do ódio; a força de gravidade da vida é mais forte que a da morte. Porventura não é esta a situação da Igreja de todos os tempos? Sempre dá a impressão que ela deva afundar, e todavia já está salva. São Paulo ilustrou esta situação com as palavras: «Somos considerados (…) como agonizantes, embora estejamos com vida» (2 Cor 6, 9). A mão salvadora do Senhor nos sustenta e assim podemos cantar já agora o cântico dos redimidos, o cântico novo dos ressuscitados: Aleluia! Amen.

sábado, 11 de abril de 2009

Proclamação da Páscoa


- Exulte o céu, e os Anjos triunfantes,mensageiros de Deus, desçam cantando;façam soar trombetas fulgurantes, a vitória de um Rei anunciando.

 - Alegre-se também a terra amiga,

que em meio a tantas luzes resplandece;e vendo dissipar-se a treva antiga,ao sol do eterno Rei brilha e se aquece; 

- Que a mãe Igreja alegre-se igualmente,erguendo as velas deste fogo novo,e escute, reboando de repente,o Aleluia cantado pelo povo.

 O Senhor esteja convosco!

- Ele está no meio de nós.

Corações ao alto!

- O nosso coração está em Deus.

- Demos graças ao Senhor, nosso Deus.

- É nosso dever e nossa salvação.

 

- Sim, verdadeiramente é bom e justocantar ao Pai de todo o coração,e celebrar seu Filho, Jesus Cristo,tornado para nós um novo Adão.

 - Foi ele quem pagou do outro a culpa,quando por nós à morte se entregou:para apagar o antigo documentona cruz todo o seu sangue derramou.

 - Pois eis agora a Páscoa, nossa festa,em que o real Cordeiro se imolou:marcando nossas portas, nossas almas,com seu divino sangue nos salvou.

 - Esta é, Senhor, a noite em que do Egito retirastes os filhos de Israel,transpondo o mar Vermelho a pé enxuto,rumo à terra onde correm leite e mel.

 - Ó noite em que a coluna luminosa as trevas do pecado dissipou,e aos que crêem no Cristo em toda a terra em novo povo eleito congregou!

  - Ó noite em que Jesusrompeu o inferno,ao ressurgir da morte vencedor: de que nos valeria ter nascido,se não nos resgatasse em seu amor?

 - Ó Deus, quão estupenda caridade vemos no vosso gesto fulgurar:não hesitas em dar o próprio Filho, para a culpa dos servos resgatar.

 - Ó pecado de Adão indispensável,

pois o Cristo o dissolve em seu amor; ó culpa tão feliz que há merecido a graça de um tão grande Redentor!

 - Pois esta noite lava todo crime,

liberta o pecador de seus grilhões,

dissipa o ódio e dobra os poderosos, enche de luz e paz os corações.

 - Ó noite de alegria verdadeira,

que prostra o Faraó e ergue os hebreus, que une de novo ao céu a terra inteira, pondo na treva humana a luz de Deus.

 - Na graça desta noite o vosso povo acende um sacrifício de louvor; acolhei, ó Pai santo, o fogo novo:não perde, ao dividir-se, o seu fulgor.

 - Cera virgem de abelha generosa

ao Cristo ressurgido trouxe a luz:

eis de novo a coluna luminosa, que o vosso povo para o céu conduz.

 - O círio que acendeu as nossas velas possa esta noite toda fulgurar; misture sua luz à das estrelas, cintile quando o dia despontar.

 - Que ele possa agradar-vos como o Filho, que triunfou da morte e vence o mal:

Deus que a todos acende no seu brilho, e um dia voltará, sol triunfal.

- Amém.  

SEXTA-FEIRA SANTA: SE DEUS EXISTE, O NÃO-CRENTE PERDEU TUDO

P. Raniero Cantalamessa, ofmcap. 

“Até a morte, e morte de cruz”

Pregação da Sexta-feira Santa de 2009 na Basílica de S. Pedro

“Christus factus est pro nobis oboediens usque ad amortem, mortem autem crucis”: Por nós, Cristo se fez obediente até a morte. E morte de cruz”. No segundo milênio do nascimento do apóstolo Paulo, relembramos algumas de suas familiares palavras sobre o mistério da morte de Cristo que estamos celebrando. Ninguém melhor que ele pode nos ajudar a compreender o significado e o alcance.

Aos Coríntios escreve em forma de manifesto: "Os Judeus pedem milagres a os Gregos buscam a sabedoria, nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os Judeus, loucura para os pagãos; mas para aqueles que são chamados, seja Judeu ou Grego, pregamos Cristo, força de Deus e sabedoria de Deus” (1 Cor 1, 22-24). A morte de Cristo tem um alcance universal: “O amor de Cristo nos constrange, considerando que, se um só morreu por todos, logo todos morreram” (2 Cor 5, 14). Sua morte deu um sentido novo à morte de cada homem e mulher.

Aos olhos de Paulo a cruz assume uma dimensão cósmica. Sobre ela Cristo derrubou o muro de separação, reconciliou os homens com Deus e entre si, destruindo a inimizade (cf. Ef 2, 14-16). A partir daí a antiga tradição desenvolverá o tema da cruz como árvore cósmica que, com o braço vertical, une céu e terra e, com o braço horizontal, reconcilia entre si os diversos povos do mundo. Evento cósmico e ao mesmo tempo personalíssimo: “me amou e se entregou por mim” (Gal 2, 20). Cada homem, escreve o Apóstolo, é um "daquele por quem Cristo morreu" (Rom 14, 15).

De tudo isso nasce o sentimento da cruz, não mais como castigo, rejeitando o argumento de aflição, mas glória e louvor do cristão, isto é, como uma jubilosa segurança, acompanhada pela comovida gratidão, à qual o homem se alça na fé: “Quanto a mim, que eu me glorie somente na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gal 6, 14).

Paulo plantou a cruz no centro da Igreja como mastro principal no centro do navio; tornou-a fundamento e centro de gravidade de tudo. Fixou para sempre o quadro do anuncio cristão. Os evangelhos, escritos depois dele, seguiram o esquema, fazendo do relato da paixão e morte de Cristo a base sobre a qual tudo está orientado.

Fica-se atônito frente à empresa levada adiante pelo Apóstolo. Para nós hoje é relativamente fácil ver as coisas nesta luz, depois que a cruz de Cristo, como dizia Agostinho, brilhou na terra e brilha agora sobre a coroa do rei [1]. Quando Paulo escrevia, ela era ainda sinônimo da maior ignomínia, algo que não se devia nem nominar entre pessoas educadas.

*  *  *

A razão do ano paulino não é tanto a de conhecer melhor o pensamento do Apóstolo (isso os estudiosos fazem desde sempre, sem contar que a pesquisa científica requer tempos mais longos que um ano); é mais, como recordou em muitas ocasiões o Santo Padre, a de aprender de Paulo como responder aos desafios atuais da fé.

Um desses desafios, talvez o mais aberto e mais conhecido até hoje, se traduziu em um slogan publicitário escrito nos meios de transporte público de Londres e de outras cidades europeias: “Deus provavelmente não existe. Portanto deixe de se preocupar e aproveite a vida”: There’s probably no God. Now stop worrying and enjoy your life”.

O elemento de maior preocupação desse slogan não é a premissa “Deus não existe”, mais a conclusão: “Aproveite a vida!” A mensagem subliminar é que a fé em Deus impede de desfrutar a vida, é inimiga da alegria. Sem essa, existiria mais felicidade no mundo! Paulo nos ajuda a dar uma resposta a este desafio, explicando a origem e o sentido de cada sofrimento, a partir daquele de Cristo.

Por que “era necessário que o Cristo padecesse para entrar em sua glória”? (Lc 24, 26). A este pergunta se dá algumas vezes uma resposta “fraca” e, em certo sentido, confortável. Cristo, revelando a verdade de Deus, provoca necessariamente a oposição das forças do mal e das trevas, e estas, como acontecia nos profetas, levam a sua rejeição e a sua eliminação. “Era necessário que o Cristo padecesse” caminha, portanto, todo no sentido de “era inevitável que Cristo padecesse”.

Paulo dá uma resposta “forte” àquela pergunta. A necessidade não é de ordem natural, mas sobrenatural. Nos países de antiga fé cristã se associa quase sempre a ideia de sofrimento e de cruz àquela de sacrifício e expiação: o sofrimento, se pensa, é necessário para expiar o pecado a aplacar a justiça de Deus. É isto que provocou, na época moderna, a rejeição de todas as ideias de sacrifício oferecido a Deus e, por fim, a própria ideia de Deus.

Não se pode negar que algumas vezes nós, cristãos, viramos as costas a esta acusação. Mais se trata de um equívoco que um melhor conhecimento do pensamento de São Paulo definitivamente aclarado. Ele escreve que Deus predeterminou Cristo “a servir como instrumento de expiação” (Rm 3, 25), mas tal expiação não opera sobre Deus para aplacá-lo, mas sobre o pecado para eliminá-lo. “Pode-se dizer que seja Deus mesmo, não o homem, que expia o pecado... a imagem é mais aquela da remoção de uma mancha corrosiva ou a neutralização de um vírus letal que a de uma ira aplacada pela punição” [2].

Cristo deu um conteúdo radicalmente novo à ideia de sacrifício. Nisso “não é mais o homem a exercitar uma influência sobre Deus para que este se aplaque. Bem ao contrário, é Deus a agir a fim de que o homem desista da própria inimizade contra ele e contra o próximo. A salvação não inicia com a busca da reconciliação por parte do homem, mas sim com a busca de Deus: “Deixai-vos reconciliar com Ele” (1 Cor 2, 6 ss) [3].

O fato é que Paulo leva a sério o pecado, não o banaliza. O pecado é, para ele, a causa principal da infelicidade do homem, isto é, a rejeição de Deus, não Deus! Isso prende a criatura humana na “mentira” e na “injustiça” (Rm 1, 18 ss; 3, 23), condena o próprio cosmo material à “vaidade” e à “corrupção” (Rm 8, 19 ss.) e é a causa última também dos males sociais que afligem a humanidade.

Fazem-se análises sem fim da crise econômica em ação no mundo e de suas causas, mas quem ousa meter o machado na raiz e falar do pecado? O Apóstolo define a avareza insaciável uma “idolatria” (Col 3,5) e adiciona na desenfreada ganância de dinheiro “a raiz de todos os males” (1 Tm 6, 10). Podemos dizer que está errado? Por que tantas famílias perderam tudo, massas de operários que permanecem sem trabalho, se não pela sede insaciável de lucro por parte de alguns? A elite financeira e econômica mundial se tornou uma locomotiva louca que avançava em curso desenfreado, sem pensar no restante do trem que ficou parado à distancia sobre os trilhos. Estávamos andando todos em “contra-mão”.

* * *

Com sua morte, Cristo não somente venceu o pecado, mas também deu um sentido novo ao sofrimento, também àquele que não depende do pecado de ninguém. Fez-lhe instrumento de salvação, um caminho à ressurreição e à vida. Seu sacrifício exercita seus efeitos não através da morte, mas sim, graças à superação da morte, isto é, à ressurreição. “Morreu pelos nossos pecados, ressuscitou pela nossa justificação” (Rm 4, 25): os dois eventos são inseparáveis no pensamento de Paulo e da Igreja.

É uma experiência humana universal: nesta vida prazer e dor se sucedem com a mesma regularidade com o elevar-se de uma onda no mar, segue uma depressão e um vazio que suga o náufrago. “Algo amargo – escreveu o poeta pagão Lucrécio – surge do próprio íntimo de cada prazer e nos angustia em meio às delícias” [4]. O uso da droga, o abuso do sexo, a violência homicida, sobre o momento dão a embriaguez do prazer, mas conduzem à dissolução moral, e muitas vezes também física, da pessoa.

Cristo, com sua paixão e morte, rebateu a relação entre prazer e dor. Ele, “em troca da alegria que lhe era dada antes, se submete à cruz” (Hb 12,2). Não mais um prazer que termina em sofrimento, mas um sofrimento que leva à vida e à alegria. Não se trata somente de um diverso suceder-se das duas coisas; é a alegria, deste modo, a ter a última palavra, não o sofrimento, e uma alegria que durará eternamente. “Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte não tem poder sobre ele” (Rm 6,9). E não terá nenhum sobre nós.

Esta nova relação entre sofrimento e prazer se reflete no modo de ler o tempo da Bíblia. No cálculo humano, o dia inicia com a manhã e termina com a noite; para a Bíblia começa com a noite e termina com o dia: “E foi tarde e foi manhã: primeiro dia”, recita o relato da criação (Gen 1, 5). Não é sem significado que Jesus morreu a noite e ressuscita pela manhã. Sem Deus, a vida é um dia que termina na noite; com Deus é uma noite que termina no dia, e um dia sem ocaso.

Cristo não veio, portanto, para aumentar o sofrimento humano ou a pregar a resignação dessa; veio para dar-lhe um sentido e anunciar o fim e a superação. Aquele slogan nos ônibus de Londres e outras cidades é lido também por pais que possuem um filho doente, por pessoas sozinhas, ou que estão sem trabalho, por exilados fugitivos dos horrores da guerra, por pessoas que vivem graves injustiças na vida... Eu busco imaginar sua reação ao ler as palavras: “Provavelmente Deus não existe: aproveite, portanto, a vida!” E com que?

O O sofrimento torna certo um mistério para todos, especialmente o sofrimento dos inocentes, mas sem a fé em Deus ele se torna imensamente mais absurdo. Se lhes tiram a última esperança de resgate. O ateísmo é um luxo que pode ser concedido só aos privilegiados pela vida, aqueles que possuem tudo, compreendida a possibilidade de dar-se aos estudos e à pesquisa.

* * * 

Não é só a incongruência daquela peça publicitária. “Deus provavelmente não existe”: portanto, poderá existir, não se pode excluir totalmente que exista. Mas, querido irmão não crente, se Deus não existe, eu não perdi nada; se, ao contrário, ele existe, você terá perdido tudo! Devemos quase agradecer aos que lançaram aquela campanha publicitária; ela tem servido à causa de Deus mais que muitos dos nossos argumentos apologéticos. Mostrou a pobreza de suas razões e contribuiu para despertar muitas consciências adormecidas.

Mas Deus tem uma medida de juízo diferente e, se vê a boa fé, ou uma ignorância sem culpa, salva ainda quem em vida tenha se erguido a combatê-lo. Devemos nos preparar para as surpresas a esse respeito, nós crentes. “Quantas ovelhas estão fora do redil, exclama Agostinho, e quantos lobos dentro!”: “Quam multae oves foris, quam multi lupi intus!” [5].

Deus é capaz de fazer de seus negadores mais obstinados os apóstolos mais apaixonados. Paulo é a demonstração disso.  Que havia feito Saulo de Tarso para merecer aquele encontro extraordinário com Cristo? Em que havia acreditado, esperado, sofrido? A ele se aplica aquilo que Agostinho diz de qualquer eleição divina: “Procure o mérito, procure a justiça, reflita e veja se não há mais que a graça” [6]. É assim que ele explica seu chamado: “Porque eu sou o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que ele me deu não tem sido inútil. Ao contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo” (1 Cor 15, 9-10). 

A cruz de Cristo é motivo de esperança para todos, e o Ano Paulino, uma ocasião de graça também para aqueles que não acreditam, mas buscam. Uma coisa fala a favor deles diante de Deus: o sofrimento! Como o restante da humanidade, os ateus também sofrem na vida, e o sofrimento, uma vez que o Filho de Deus tomou sobre si, tem um poder redentor quase sacramental. É um canal, escreve João Paulo II na “Salvifici doloris”, através do qual a energia salvífica da cruz de Cristo é oferecida à humanidade [7].

Ao convite a pregar “para aqueles que não acreditam em Deus”, seguirá, em breve, uma comovente oração em latim do Santo Padre. Traduzida, ela diz: “Deus onipotente e eterno, tu colocaste no coração do homem uma profunda nostalgia de ti, e só quando te encontramos vivemos a paz: faz que, superando cada obstáculo, reconheçamos os sinais da tua bondade e, estimulados pelo testemunho da nossa vida, tenhamos a alegria de crer em ti, um verdadeiro Deus e Pai de todos os homens. Através de Cristo, nosso Senhor”.

[1] S. Agostino, Enarr. in Psalmos, 54, 12 (PL 36, 637).

[2] J. Dunn, La teologia dell’apostolo Paolo, Paideia, Brescia 1999, p. 227.

[3] G. Theissen – A. Merz, Il Gesù storico. Un manuale, Queriniana, Brescia 20032, p. 573.

[4] Lucrezio, De rerum natura, IV, 1129 s.

[5] S. Agostino, In Ioh. Evang. 45,12.

[6] S. Agostino, La predestinazione dei santi 15, 30 (PL 44, 981).

[7] Cf. Enc. “Salvifici doloris”, 23. 

sexta-feira, 10 de abril de 2009


CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR

HOMILIA DO PADRE RANIERO CANTALAMESSA

Basílica de São Pedro 
Sexta-feira Santa, 21 de Março de 2008

 

"Depois de os soldados crucificarem Jesus, tomaram as suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. A túnica, porém, toda tecida de alto a baixo, não tinha costura. Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas deitemos sorte sobre ela, para ver de quem será. Assim se cumpria a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sorte sobre a minha túnica (Sl 21,19). Isso fizeram os soldados" (Jo 19, 23-24).

Aqui sempre se questiona o que o evangelista João queria dizer com a importância que dá a esse detalhe da Paixão. Uma explicação, relativamente recente, é que a túnica recorda o paramento do sumo sacerdote, e que João, então, queria afirmar que Jesus morreu não apenas como rei, mas também como sacerdote. Da túnica do sumo sacerdote não se diz, na Bíblia, que deveria ser sem costura (Cf. Êx 28, 4; Lv 16, 4). Por isso, importantes exegetas preferem se ater à explicação tradicional, segundo a qual a túnica intacta simboliza a unidade dos discípulos (1). Esta é a interpretação que São Cipriano já dava: "O mistério da unidade da Igreja, escreve, é expresso no Evangelho quando se diz que a túnica de Cristo não foi dividida nem rasgada" (2).

Qualquer que seja a explicação que se dá ao texto, uma coisa é certa: a unidade dos discípulos é, para João, o propósito pelo qual Cristo morre: "Jesus havia de morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para que fossem reconduzidos à unidade os filhos de Deus dispersos" (Jo11, 51-52). Na última ceia, ele próprio disse: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17, 20-21).

A feliz notícia a proclamar na Sexta-Feira Santa é que a unidade, antes que um objetivo a atingir, é um dom recebido. Que a túnica fosse tecida "de alto a baixo", explica São Cipriano, significa que "a unidade trazida por Cristo provém do alto, do Pai celeste, e não pode, então, ser rasgada por quem a recebe, mas deve ser acolhida integralmente".

Os soldados fizeram em quatro parte "as vestes", ou "o manto" (ta imatia), isto é, a indumentária exterior de Jesus, não a túnica, o chiton, que era o indumento íntimo, usado em contato direto com o corpo. Um símbolo também isso. Nós, homens, podemos dividir a Igreja no seu elemento humano e visível, mas não a sua unidade profunda que se identifica com o Espírito Santo. A túnica de Cristo não foi e não poderá ser dividida. "Pode-se, acaso, dividir Cristo?", dizia Paulo (cf. 1 Cor 1, 13). É a fé que professamos no Credo: "Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica".

Mas se a unidade deve servir de sinal "para que o mundo creia", essa deve ser uma unidade também visível, comunitária. É esta unidade que foi perdida e que devemos recuperar. Ela é bem mais que relações de boa vizinhança, é a própria unidade mística interior "sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos" (Ef 4, 4-6) , o quanto esta unidade objetiva é acolhida, visualizada e manifestada, de fato, pelos crentes.

"Senhor, é este o tempo em que ides instaurar o reino de Israel?", questionam os apóstolos a Jesus depois da Páscoa. Hoje voltamos a fazer esta pergunta a Jesus: É este o tempo em que se instaurará a unidade visível da tua Igreja? A resposta também é a mesma de então: "Não vos pertence a vós saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em seu poder, mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas" (Act 1, 6-8).

Recordava-o o Santo Padre na homilia de 25 de Janeiro passado, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, na conclusão da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos: "A unidade com Deus e com os nossos irmãos e irmãs é um dom que provém do Alto, que brota da comunhão do amor entre Pai, Filho e Espírito Santo e que nela se aumenta e se aperfeiçoa. Não está em nosso poder decidir quando ou como esta unidade se realizará plenamente. Só Deus o poderá fazer! Como São Paulo, também nós colocamos a nossa esperança e confiança "na graça de Deus que está conosco"".

Também hoje virá o Espírito Santo, se nos deixarmos guiar, para conduzir à unidade. Como fez o Espírito Santo para realizar a primeira fundamental unidade da Igreja: aquela entre judeus e pagãos? Vem sobre Cornélio e a sua casa do mesmo modo com que em Pentecostes veio aos apóstolos. Pedro tira a conclusão: "Pois, se Deus lhes deu a mesma graça que a nós, que cremos no Senhor Jesus Cristo, com que direito me oporia eu a Deus?" (Act 11, 17).

Ora, de um século para cá, nós observamos repetir-se sob nossos olhos este mesmo prodígio, em escala mundial. Deus infundiu seu Espírito Santo, de modo novo e raro, sobre milhões de fiéis, aparentemente em quase todas as denominações cristãs e, a fim de que não houvesse dúvidas sobre suas intenções, o infundiu com as mesmas idênticas manifestações. Não é este um sinal de que o Espírito que impele a reconhecer o episódio como discípulos de Cristo e atendermos juntos para a unidade?

Apenas esta unidade espiritual e carismática, é verdade, não basta. Observamos já ao início da Igreja. A unidade entre judeus e gentios é nova e já ameaçada pelo cisma. Ali houve uma "longa discussão", no chamado concílio de Jerusalém, e, ao final, houve um acordo, anunciando para a Igreja com uma fórmula: "pareceu bem ao Espírito Santo e a nós" (Act 15, 28). O Espírito Santo opera, então, também através de uma via diferente, que é o confronto paciente, o diálogo e o compromisso entre as partes, quando não está em jogo o essencial da fé. Opera através das "estruturas" humanas e dos "ministérios" estabelecidos por Jesus, sobretudo o ministério apostólico e petrino. É o que chamamos hoje de ecumenismo doutrinal e institucional.

A experiência nos está convencendo porém que também este ecumenismo doutrinal, ou de vértice, não é suficiente e não avança, se não for acompanhado por um ecumenismo espiritual, de base. Isto é repetido sempre com maior insistência justamente pelos máximos promotores do ecumenismo institucional. Aos pés da cruz, queremos meditar sobre este ecumenismo espiritual: em que consiste e como podemos avançar nisto. O ecumenismo espiritual nasce do arrependimento e do perdão e se alimenta com a oração. Em 1977, participei de um congresso ecumênico carismático em Kansas City, Missouri. Estavam lá quarenta mil presentes, metade católicos (entre os quais o cardeal Suenens) e metade de outras denominações cristãs. Uma tarde, ao microfone, um dos animadores começou a falar de um modo, para mim, naquela época, estranho: "Vós, sacerdotes e pastores, chorai e lamentai, porque o corpo de meu Filho está em pedaços... Vós, leigos, homens e mulheres, chorai e lamentai porque o corpo de meu Filho está em pedaços".

Comecei a ver as pessoas caírem uma após outra de joelhos em torno a mim e muitos desses soluçavam de arrependimento pelas divisões no corpo de Cristo. E tudo isso enquanto uma frase ecoava de um lado a outro do estádio: "Jesus is Lord, Jesus é o Senhor". Eu era como um observador ainda assaz crítico e destacado, mas lembro que pensei comigo: Se um dia todos os crentes estivessem reunidos a formar uma só Igreja, seria assim: enquanto estivermos todos de joelhos, com o coração contrito e humilhado, sob o grande senhorio de Cristo.

Se a unidade dos discípulos deve ser reflexo da unidade entre o Pai e o Filho, essa deve ser, antes de tudo, uma unidade de amor, porque tal é a unidade que reina na Trindade. A Escritura nos exorta a "fazer a verdade na caridade" (veritatem facientes in caritate) (Ef 4, 15). E Santo Agostinho afirma que "não se entra na verdade senão através da caridade": non intratur in veritatem nisi per caritatem (3).

A coisa extraordinária a respeito desse caminho à unidade baseado no amor é que esse já está agora escancarado diante de nós. Não podemos "queimar etapas" em relação à doutrina, porque as diferenças existem e serão resolvidas com paciência nas sedes apropriadas. Podemos, ao contrário, queimar etapas na caridade, e estar unidos, a partir de agora. A verdade, seguro sinal da vinda do Espírito, não é, escreve Santo Agostinho, o falar em línguas, mas é o amor pela unidade: "Sabeis que tendes o Espírito Santo quando permitis que vosso coração adira à unidade através de uma sincera caridade" (4).

Repensemos no hino da caridade de São Paulo. Cada frase sua adquire um significado atual e novo, se aplicada ao amor entre membros das diversas Igrejas cristãs, nas relações ecumênicas:

"A caridade é paciente... A caridade não é invejosa... Não busca só seu interesse... Não leva em conta o mal recebido (no caso do mal feito aos outros!). Não se alegra com a injustiça, mas se compraz da verdade (não se alegra das dificuldades das outras Igrejas, mas se compraz de seus sucessos). Tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (1 Cor 13, 4 ss.).

Esta semana acompanhamos à sua morada eterna uma mulher Chiara Lubich fundadora do Movimento dos Focolares que foi uma pioneira e um modelo deste ecumenismo espiritual de amor. Ela demonstrou que a busca da unidade entre os cristãos não leva ao fechamento para o resto do mundo; é, ao contrário, o primeiro passo e a condição para um diálogo mais vasto com os crentes de outras religiões e com todos os homens que têm no coração os destinos da humanidade e da paz

"Amar-se, já foi dito, não significa olhar um para o outro, mas olharem juntos na mesma direção". Também entre cristãos, amar-se significa olharem juntos na mesma direção que é Cristo. "Ele é nossa paz" (Ef 2, 14). Acontece como para os raios de uma roda. Vejamos o que acontece aos raios quando do centro vão para o exterior: a medida que se distanciam do centro se distanciam também entre si, até terminar em pontos distantes da circunferência. Vejamos, ao contrário, o que acontece quando da circunferência movem-se até o centro: pouco a pouco aproximam-se do centro, se aproximam entre si, até formar um ponto só. Na medida na qual andemos juntos para Cristo, nos aproximaremos também entre nós, até ser verdadeiramente, como ele pediu, "uma só coisa com Ele e com o Pai".

O que poderá reunir os cristãos divididos será só a difusão entre eles de uma onda nova de amor por Cristo. É isto que está acontecendo por obra do Espírito Santo e que nos enche de estupor e de esperança. "O amor de Cristo nos constrange, ao pensamento que um morreu por todos" (2 Cor 5, 14). O irmão de outra Igreja também cada ser humano é "alguém pelo qual Cristo morreu" (Rm 14, 16), como morreu por mim.

Um motivo deve, sobretudo, impulsionar-nos adiante neste caminho. O que estava em jogo no início do terceiro milênio não é o mesmo que estava no início do segundo milênio, quando se produziu a separação entre oriente e ocidente, e nem mesmo é a mesma coisa que na metade do mesmo milênio, quando se produz a separação entre católicos e protestantes. Podemos dizer que a maneira exata de proceder do Espírito Santo do Pai e o problema da relação entre fé e obras são os problemas que apaixonam os homens de hoje e com o qual permanece ou cai a fé cristã?

O mundo caminhou adiante e nós estamos permanecemos presos a problemas e fórmulas que o mundo não conhece mais nem o significado. Discutamos ainda sobre como ocorre a justificação do pecador, em uma forma que perdeu o próprio sentido do pecado e o vê, cito, como "uma nefasta invenção judaica que o cristianismo propagou ao povo".

Nas batalhas medievais havia um momento no qual, superadas as infantarias, os arqueiros, a cavalaria e todo o resto, a multidão se concentrava em torno do rei. Ali se decidia o êxito final da batalha. Também para nós a batalha hoje está em torno do rei. Existem edifícios ou estruturas metálicas assim feitas que se se toca um certo ponto nevrálgico, ou se se tira uma certa pedra, tudo desaba. No edifício da fé cristã esta pedra angular é a divindade de Cristo. Removida esta, tudo se evapora e, antes de qualquer coisa, a fé da Trindade.

Daí se vê como existem hoje dois ecumenismos possíveis: um ecumenismo da fé e um ecumenismo da incredulidade; um que reúne todos aqueles que crêem que Jesus é o Filho de Deus, que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, e que Cristo morreu para salvar a todos os homens, e um que reúne todos aqueles que, em reverência ao símbolo de Nicéia, continuam a proclamar esta fórmula, mas esvaziando-a de seu verdadeiro conteúdo. Um ecumenismo no qual, no limite, todos crêem nas mesmas coisas, porque ninguém crê mais em nada, no sentido que a palavra "crer" tem no Novo Testamento.

"Quem é que vence o mundo, escreve João na Primeira Carta, se não quem crê que Jesus é o Filho de Deus?" (1 Jo 5, 5). Permanecendo neste critério, a fundamental distinção entre os cristãos não é entre católicos, ortodoxos e protestantes, mas entre aqueles que crêem que Cristo é o Filho de Deus e aqueles que não crêem.

"No segundo ano do rei Dario, no primeiro dia do sexto mês, esta palavra do Senhor foi revelada por meio do profeta Ageu a Zorobabel, filho de Salatiel, governador da Judéia, e a Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote...: Parece-vos este o tempo de habitar tranqüilos em vossas casas bem cobertas, enquanto minha casa é ainda uma tenda?" (Ag 1, 1-4).

Esta palavra do profeta Ageu é voltada hoje a nós. É este o tempo de continuar a preocupar-nos só do que diz respeito a nossa ordem religiosa, nosso movimento, ou nossa Igreja? Não será justamente esta a razão pela qual também nós "semeamos muito, mas colhemos pouco" (Ag 1, 6)? Pregamos e agimos de todos os modos, mas convertemos poucas pessoas e o mundo se distancia, ao invés de aproximar-se de Cristo.

O povo de Israel escutou o apelo do profeta; cessou de ornamentar cada um a própria casa para reconstruírem juntos o templo de Deus. Deus então enviou de novo seu profeta com uma mensagem de consolação e de encorajamento: "Agora, coragem, Zorobabel - oráculo do Senhor coragem, Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote; coragem, povo todo do país, diz o Senhor, e ao trabalho, porque eu estou convosco" (Ag 2, 4). Coragem, vós todos que tendes no coração a causa da unidade dos cristãos, e ao trabalho, porque eu estou convosco, diz o Senhor!


domingo, 5 de abril de 2009

Domingo de Ramos e da Paixão e Morte de Jesus


Mc 14,1-15,47

O plano para matar Jesus 
Faltavam dois dias para a Festa da Páscoa e a Festa dos Pães sem Fermento. Os chefes dos sacerdotes e os mestres da Lei procuravam um jeito de prender Jesus em segredo e matá-lo. Eles diziam: 
- Não vamos fazer isso durante a festa, para não haver uma revolta no meio do povo. 
Jesus em Betânia 
Jesus estava no povoado de Betânia, sentado à mesa na casa de Simão, o Leproso. Então uma mulher chegou com um frasco feito de alabastro, cheio de perfume de nardo puro, muito caro. Ela quebrou o gargalo do frasco e derramou o perfume na cabeça de Jesus. Alguns que estavam ali ficaram zangados e disseram uns aos outros: 
- Que desperdício! Esse perfume poderia ter sido vendido por mais de trezentas moedas de prata, que poderiam ser dadas aos pobres. 
Eles criticavam a mulher com dureza, mas Jesus disse: 
- Deixem esta mulher em paz! Por que é que vocês a estão aborrecendo? Ela fez para mim uma coisa muito boa. Pois os pobres estarão sempre com vocês, e, em qualquer ocasião que vocês quiserem, poderão ajudá-los. Mas eu não estarei sempre com vocês. Ela fez tudo o que pôde, pois antes da minha morte veio perfumar o meu corpo para o meu sepultamento. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: em qualquer lugar do mundo onde o evangelho for anunciado, será contado o que ela fez, e ela será lembrada. 
Judas trai Jesus 
Judas Iscariotes, que era um dos doze discípulos, foi falar com os chefes dos sacerdotes para combinar como entregaria Jesus a eles. Quando ouviram o que ele disse, eles ficaram muito contentes e prometeram dar dinheiro a ele. Assim Judas começou a procurar uma oportunidade para entregar Jesus. 
Jesus comemora a Páscoa 
No primeiro dia da Festa dos Pães sem Fermento, em que os judeus matavam carneirinhos para comemorarem a Páscoa, os discípulos perguntaram a Jesus: 
- Onde é que o senhor quer que a gente prepare o jantar da Páscoa para o senhor? 
Então Jesus enviou dois discípulos com a seguinte ordem: 
- Vão até a cidade. Lá irá se encontrar com vocês um homem que estará carregando um pote de água. Vão atrás desse homem e digam ao dono da casa em que ele entrar que o Mestre manda perguntar: "Onde fica a sala em que eu e os meus discípulos vamos comer o jantar da Páscoa?" Então ele mostrará a vocês no andar de cima uma sala grande, mobiliada e arrumada para o jantar. Preparem ali tudo para nós. 
Os dois discípulos foram até a cidade e encontraram tudo como Jesus tinha dito. 

(Continue lendo na sua Bíblia o capítulo 14 do Evangelho escrito por Marcos e leia também o capítulo 15 todo). 

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O AMOR

 

Aos 33 anos Jesus foi condenado a morte...

A "pior" morte da época.

Somente os piores criminosos da época morreram como Jesus morreu.

E com Jesus ainda foi pior porque nem todos os criminosos naquela

punição receberam cravos nos membros...

Sim... Foram cravos e não pregos....

Cada um deveria ter cerca de 15 a 20 cm, com uma ponta com 6 cm e a 

outra ponta pontiaguda.

Eles eram enfiados nos pulsos e não nas mãos como é dito.

No pulso, há um tendão que vai ate o nosso ombro...

Quando os cravos foram enfiados esse tendão se rompeu sendo que Jesus era obrigado 

a forçar todos os músculos de suas costas para não ter os seus pulsos rasgados.

Sendo assim, não podia forçar tanto tempo porque perdia todo o ar de
seus pulmões.

Desta forma, era obrigado a se apoiar no cravo enfiado em seus pés,que por sua vez 

era maior que os das mãos porque eram pregados os dois pés juntos.

Já que seus pés não agüentariam por muito tempo, senão rasgariam também, 

Jesus era obrigado a alternar este "ciclo"simplesmente para
conseguir respirar.

Jesus agüentou esta situação por um pouco mais de 3 horas.

Sim, mais de 3 horas...

Muita coisa não???

Alguns minutos antes de morrer Jesus não sangrava mais.

Simplesmente saia água de seus cortes e machucados.

Quando imaginamos machucados, imaginamos simples feridas, mas
não, os dele eram verdadeiros buracos, buracos feitos em seu corpo...

Ele não tinha mais sangue para sangrar.

Portanto, saía água.

Um corpo humano é composto de aproximadamente 8 litros de sangue (um adulto).

Jesus derramou 8 litros de sangue, teve três cravos enormes enfiados nos membros, 

uma coroa de espinhos enfiados na cabeça e teve um soldado romano que 

enfiou uma lança em seu tórax, sem falar de toda a humilhação  que passou, 

após ter carregado a sua própria cruz por cerca
de dois quilômetros, com pessoas cuspindo em seu rosto e atirando pedras em seu 

corpo (a cruz pesava cerca de 30 kilos...só a parte em
que lhe foram pregadas as mãos).

Isso tudo para que você tivesse um livre acesso a Deus...para que você
tivesse todos o seus pecados "lavados"...

Todos eles, sem exceção!

Não ignore essa situação...

ELE MORREU POR VOCÊ...

Você mesmo, que está lendo este artigo...

Não fique achando que ele morreu pelo outros, por só aqueles que vão a

alguma igreja ou por aqueles monges, padres, pastores, bispos, etc...

Sim, Ele morreu por você também.

JESUS É A ÚNICA SALVAÇÃO PARA O MUNDO.



Se este artigo te tocou de alguma forma e você

acredita que Deus tem planos pra você, então mostre a todos que você

acredita em tudo isso e mande para quem conheça, mostrando tudo o

que ele passou unicamente para mostrar a Salvação.

Pense nisso agora!!! Deus abençoe nossas vidas!!!!!!